Festas Juninas Milionárias e o Esvaziamento da Tradição: Prefeitos Ignoram Saúde, Educação e Cultura do Forró Autêntico

Humberto Cedraz, radialista, jornalista e articulador político

Por trás dos palcos grandiosos, dos shows de arrocha, pagode e axé pagos a peso de ouro no São João de 2025, esconde-se uma dura realidade: a descaracterização da festa nordestina mais importante do calendário e o desperdício de dinheiro público em cidades que carecem de serviços básicos. A crítica veio com força na voz do radialista, jornalista e articulador político Humberto Cedraz, em sua participação no programa dominical de Silvério Silva, na Rádio Sociedade News.

Cedraz foi direto ao ponto ao denunciar o absurdo de prefeituras investindo cifras milionárias na contratação de artistas que não têm qualquer ligação com a tradição junina. “É inadmissível uma cidade da Bahia contratar um artista por R$ 1,1 milhão. Não há justificativa para isso quando o hospital da cidade está fechado há dois anos, sem previsão de conclusão de reforma, e a população sofre com a falta de atendimento básico em saúde”, disparou o comunicador.

O jornalista destacou o descompasso entre as reais necessidades da população e o interesse político dos gestores municipais em promover “festas de fachada“, mais voltadas à autopromoção do que à cultura ou ao bem-estar do povo. “Na UBS falta médico, falta remédio. Os jovens pedem emprego, mas não há políticas de geração de renda. Para tudo isso, a prefeitura não tem solução. Mas, para festa, tem dinheiro de sobra. Gastam R$ 8, R$ 10, R$ 11 milhões enquanto o povo padece”, lamentou.

Segundo ele, essas contratações milionárias desvirtuam o verdadeiro espírito do São João nordestino — uma festa de raiz, de família, de forró autêntico — e transformam o evento numa espécie de mini-Carnaval fora de época. “Estão matando o forró. Querem trazer para o São João o axé da Bahia, o pagode de Salvador, o arrocha das rádios populares. Cadê os trios de forró? Cadê o xote, o baião, o arrasta-pé? É uma falta de respeito com a nossa cultura”, criticou Cedraz.

A indignação do radialista ganhou força ao citar exemplos concretos. “O São João está aí, no Diário Oficial do Estado. Segundo matéria de jornalismo sério, quem recebeu mais recursos foi Catu, com R$ 2 milhões. Se Catu recebeu mais, todo mundo recebeu menos”, afirmou.

E prosseguiu: “Como é que uma cidade onde há um hospital fechado há dois anos, com uma reforma que não acaba nunca, faz uma festa com cifras superiores a R$ 10 milhões? Me diga o que deve ser feito com uma administração dessa. Uma cidade que tomou empréstimos junto ao Governo Federal, devendo R$ 21 milhões e quinhentos mil. Veja quanto gastou no São João. É só olhar Santanópolis, aqui pertinho de Feira de Santana. Não se tocam, não. E a culpa é do próprio cidadão da cidade, que deveria representar no Ministério Público”, criticou.

Cedraz ainda fez um apelo direto ao Ministério Público para que investigue as contratações milionárias de artistas nas prefeituras baianas. “Cabe ao MP agir com mais rigor, cruzar dados, verificar tabelas de preços, saber quanto custa o mesmo artista em outras cidades. O povo não aguenta mais pagar por essa farra com dinheiro público enquanto morre na fila do hospital sem remédio, sem médico”, alertou.

A crítica do comunicador também recaiu sobre a classe política. Segundo ele, nenhum vereador — de situação ou oposição — levanta a voz contra esses abusos, seja por cumplicidade, seja por medo de desagradar aliados. “É a imprensa que denuncia. Se não fossem o rádio, o jornal, as redes sociais, o povo continuaria achando que está tudo bem, só porque tem festa e trio elétrico na praça”, alfinetou.

Para Cedraz, é hora de repensar a essência do São João: uma festa familiar, que atrai turistas do Brasil e do mundo justamente pela sua autenticidade — e não pela importação de ritmos e modismos alheios à cultura nordestina. “Quem vem de fora quer forró, quer zabumba, quer sanfona, quer conhecer o São João de verdade, não um Carnaval disfarçado de festa junina”, concluiu.

A reflexão do jornalista reflete um sentimento cada vez mais presente na população: a necessidade urgente de resgatar o verdadeiro São João, valorizar os artistas do forró tradicional e, acima de tudo, tratar com seriedade os recursos públicos destinados à cultura, sem esquecer da saúde, da educação e do desenvolvimento econômico das cidades.