Deusa do Forró Desabafa e Reforça a Luta pela Valorização da Cultura Nordestina no São João

A onda de insatisfação entre os artistas autênticos do forró cresce a cada novo anúncio de programação junina que ignora as raízes do São João do Nordeste. Desta vez, foi a própria Deusa do Forró — coordenadora do movimento “Forró de Raiz” — quem se manifestou publicamente com firmeza, criticando a forma como prefeitos, em sua maioria, vêm desrespeitando a tradição ao escantear os verdadeiros representantes do ritmo nordestino.

Em um desabafo emocionado, Deusa do Forró deixou clara a indignação não apenas dela, mas de toda uma classe de artistas que lutam para manter viva a cultura do forró autêntico:

“Eu recebo o desabafo dos meus amigos, dos meus companheiros forrozeiros do mundo todo e, principalmente, do Nordeste, reclamando que estão deixando de contratar os verdadeiros forrozeiros para misturar ritmos no São João. Eu não tenho nada contra outros estilos, acho que todo mundo tem o seu espaço, o seu momento de fazer show. Mas misturar o São João com axé, sertanejo, piseiro — até padre e pastor têm espaço agora — e o forró virou minoria? Isso é inaceitável, isso é injusto.”

A cantora foi além e destacou que sua fala representa o sentimento de todos os artistas que vivem e mantêm a cultura nordestina viva:

“Isso não é só uma fala da Deusa do Forró, é a realidade de todos os forrozeiros que trabalham, que carregam a nossa arte e a nossa cultura. Um povo sem raiz, sem história, não é nada. E o Nordeste tem o que mostrar ao povo de fora, aos turistas: o nosso forró de raiz, o forrozeiro de verdade.”

Sem meias palavras, ela também criticou a diferença gritante entre o tratamento dado aos artistas locais e aos grandes nomes de fora:

“Aí pegam cantores que cantam qualquer coisa e botam no palco, com um valor gigantesco, enquanto o forrozeiro local ganha uma miséria. Isso acontece em todos os estados. Eu não tô aqui só como artista, mas como cidadã que paga imposto — e quem paga o salário dos prefeitos somos nós, o povo, os artistas locais. E mesmo assim, somos desvalorizados.”

Deusa do Forró também denunciou a falta de divulgação adequada para os músicos regionais, que acabam invisíveis nas campanhas oficiais das festas:

“Além de não contratar o artista local, quando contratam não fazem divulgação digna. Não colocam o nome na mídia, na televisão, nos cartazes. Muitas vezes nem citam. E já chegam estipulando o cachê: pagam um milhão de reais pra um cara com um computador no palco fazendo barulho e não querem pagar um valor justo pro artista que traz cinco, oito, dez músicos — gente que depende daquele cachê pra sobreviver. É uma injustiça enorme.”

Ela concluiu com um recado direto aos organizadores de festas juninas:

“A tradição tem que ser respeitada. Não existe essa história de colocar arrocha, axé ou qualquer outro ritmo no São João de forró. Isso é desvirtuar a nossa festa. Eu, como artista, fico indignada com isso.”

O desabafo da artista reforça a crescente revolta entre os músicos que representam o forró autêntico — um movimento de resistência que ganha força diante da descaracterização do São João, cada vez mais transformado em vitrine para gêneros que nada têm a ver com a cultura nordestina.

A cobrança agora recai sobre os gestores públicos: ou respeitam as raízes do povo nordestino ou estarão ajudando a enterrar, de vez, o verdadeiro São João.